Julian
Assange: Civilização atual pode estar caminhando para o totalitarismo
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, advertiu
hoje para o perigo de a civilização actual caminhar para o totalitarismo, em
resultado da centralização de informação, e recomendou aos cibernautas a
procura de caminhos alternativos a essa centralização.
INTERNACIONAL 16 de novembro
2014
Aviso foi dado num debate realizado em Lisboa, via
teleconferência, emitida da embaixada do Equador em Londres, onde Assange
reside há dois anos. Assange intervinha no âmbito do fórum “Reagir contra a
vigilância de massas: abrir o espaço à sociedade”, integrado no Festival de
Cinema de Lisboa e Estoril (L&EFFest).
“O avanço da civilização, em termos cada vez mais de
tecnologia complexa, pode levar-nos ao totalitarismo, como resultado da
centralização de informação? Essa é a verdadeira questão que tem de ser respondida”,
disse o australiano, que desde meados 2012 está refugiado naquela embaixada,
após o Supremo Tribunal britânico ter autorizado a sua extradição.
Assange salientou que a globalização tende a ter como
resultado um líder de mercado, como a Google, e defendeu que “podemos estar a
caminhar” para uma situação de centralização em todo o mundo.
“A verdade é que, à medida que os serviços de
inteligência [como o SIS e SIED, serviços de informações de Segurança e
Estratégicas de Defesa, em Portugal] se tornam mais poderosos e mais secretos,
e aumenta o fenómeno generalizado de ligação nas comunicações entre indivíduos,
esses serviços tornam-se mais livres e poderosos e não há forma de escapar”,
avisou.
E Assange foi ainda mais longe nas acusações à Google,
defendendo que é uma empresa que está a crescer e é muito ambiciosa, e que essa
ambição não acontece só nas ligações que a Google cria com o Governo e o poder
norte-americanos, mas também porque a Google chega a qualquer canto do mundo.
“Vigiar cada pessoa, entender onde está, o que cada um
de nós está a fazer, a ler, com quem contacta”, precisou, defendendo que todos
os que usam a internet, o Facebook, o Gmail, devem encontrar caminhos que
permitam fugir dessa centralização da informação.
Assange defendeu ainda que, independentemente da
verdade sobre os motivos da criação da Google, o seu modelo básico assenta no
mesmo dos sistemas de segurança nacional, arrecadando informação de todo o
mundo, tratando-a e organizando-a para cada pessoa.
E rebateu ainda os argumentos dos cibernautas que
dizem não temer a Google ou a internet, por não terem nada a esconder: “A minha
primeira pergunta é: o que está errado contigo? Deves ser muito aborrecido. Vai
imediatamente arranjar algo para esconder”, disse, provocando o riso da
plateia, na maioria composta por jovens.
“Estamos todos ligados, juntos, a informação viaja de
uns para outros, somos amigos uns dos outros, directa ou indirectamente”,
constatou, explicando que, se alguém usa o Gmail para contactar uma pessoa ou
"posta" algo sobre ela no Facebook, acaba por dar informação sobre
essa pessoa e sobre os seus familiares.
Assange defendeu que um dos passos importantes é tomar
consciência sobre a centralização de informação e adquirir novos conhecimentos
sobre alternativas de fugir a esse controlo, e recomendou: “Vão à pagina da
wikileaks e comecem por ler um documento chamado 'Google Is Not What It Seems'
(a Google não é o que parece)".
Julian Assange revelou ainda que a WikiLeaks se
prepara para libertar mais documentos secretos, mas não deu mais pormenores.
Lusa/SOL
Fonte:http://sol.sapo.pt/artigo/118567/julian-assange-civilizacao-actual-pode-estar-a-caminhar-para-o-totalitarismo
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