Análise: Ataque de Israel ao Irã marca nova fase de conflito, mas não chega à guerra total
Reação inicial do Irã sugere que os dois lados ainda evitam uma batalha de grandes proporções
Por
Patrick Kingsley
, Em The New York Times
26/10/2024 09h29 Atualizado há 17 horas
O ataque de retaliação de Israel ao Irã na noite de sexta-feira (madrugada de sábado em Teerã) marcou o início de uma nova e mais perigosa fase no conflito de longa data entre os dois países. Mas, ao menos por ora, parece ter evitado uma guerra total, afirmaram analistas.
Essa foi a primeira vez que Israel reconheceu publicamente a realização de uma operação militar dentro do Irã, após anos de silêncio estratégico sobre suas ações de assassinato e sabotagem em solo iraniano. Também foi um ataque raro por uma força aérea estrangeira no Irã desde sua guerra com o Iraque na década de 1980.
Embora tenha sido um momento significativo, o ataque não provocou imediatamente uma ameaça de retaliação iraniana, aliviando os temores de que duas das forças militares mais poderosas do Oriente Médio estivessem à beira de um conflito incontrolável.
— Os anos de guerra nas sombras entraram plenamente em um conflito aberto. Embora seja um conflito gerido, por enquanto — disse Ellie Geranmayeh, especialista em Irã do Conselho Europeu de Relações Exteriores, um grupo de pesquisa com sede em Berlim.
Segundo ela, Teerã pode tolerar esses ataques contra instalações militares sem retaliar de maneira que convide novas ações israelenses.
Após semanas de pressão dos Estados Unidos para reduzir o alcance de seu ataque, Israel evitou atingir locais sensíveis de enriquecimento nuclear e instalações de produção de petróleo em retaliação ao grande ataque com mísseis balísticos que o Irã lançou contra o território israelense no início deste mês.
Desta vez, os caças israelenses concentraram-se em cerca de 20 instalações militares, incluindo baterias de defesa aérea, estações de radar e locais de produção de mísseis, de acordo com autoridades de Tel Aviv.
O foco comparativamente limitado desses ataques permitiu que as instituições iranianas projetassem uma sensação de normalidade na manhã deste sábado. A autoridade de aviação reabriu o espaço aéreo iraniano, e as agências de notícias estatais transmitiram imagens e vídeos da vida voltando ao normal. Tudo isso constituindo sinais, disseram analistas, de que a liderança do Irã tentava minimizar o significado do ataque israelense e reduzir as expectativas domésticas de uma grande resposta iraniana.
— Este é o começo de uma nova fase, uma fase perigosa, com muito mais sensibilidades. Mas o discurso que ouço do Irã basicamente diz: ‘Ah, isso não é nada’ — disse Yoel Guzansky, especialista em Irã do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, um grupo de pesquisa baseado em Tel Aviv.
Como resultado, ele acrescentou, é possível que os dois lados encerrem esta rodada, pelo menos, e que não vejamos uma retaliação iraniana — ou, se a virmos, será de pequena escala.
Ainda assim, analistas alertaram que, mesmo que a última escalada diminua, ela levou o Irã e Israel a um caminho mais próximo de um conflito difícil de controlar.
Por anos, os dois países travaram uma guerra clandestina na qual cada lado enfraquecia os interesses do outro e apoiava os oponentes do rival, raramente assumindo a responsabilidade por seus próprios ataques. Esse conflito velado tornou-se uma confrontação aberta quando a guerra eclodiu no ano passado entre Israel e o Hamas, aliado do Irã em Gaza.
Após o ataque liderado pelo Hamas em Israel, em outubro passado, que desencadeou a devastadora guerra de Israel em Gaza, outros aliados do Irã no Oriente Médio, incluindo o Hezbollah, começaram a atacar Israel em solidariedade ao seu aliado palestino. Em resposta, Israel aumentou seus ataques aos interesses iranianos na região, levando a trocas diretas entre os dois países, primeiro em abril e agora em outubro.
Alguns analistas temem que Israel, embora relativamente contido no sábado, esteja preparando o terreno para um ataque maior após a eleição presidencial dos Estados Unidos no início de novembro. A votação dará início a uma transição de poder durante a qual a influência e o foco de Washington no conflito Irã-Israel serão reduzidos.
Ao danificar as defesas aéreas e o sistema de radar do Irã, Israel facilitou futuros ataques de seus caças ao Irã, um movimento que pode tanto dissuadir Teerã de responder de forma agressiva quanto encorajar Israel a tentar novos ataques, ou ambos.
— Haverá um suspiro de alívio em todo o Irã e na região pelo fato de os EUA terem conseguido conter Netanyahu, por enquanto. Mas o temor é que essa contenção seja temporária, levando às eleições dos EUA. A fase de ‘pato manco’ à frente pode ser um momento em que vejamos novos ataques israelenses dentro do Irã, uma janela de ouro percebida para reduzir ainda mais as capacidades iranianas — disse Geranmayeh.
Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/10/26/analise-ataque-de-israel-marca-nova-fase-de-conflito-mas-nao-chega-a-guerra-total.ghtml
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