EXÉRCITO DE ISRAEL ACENA MUDANÇA DE FOCO DAS OPERAÇÕES DE KHAN YOUNIS PARA RAFAH: 'PANELA DE PRESSÃO DO DESESPERO'

 Deslocados pela guerra na Faixa de Gaza caminham por rua superlotada em Rafah

Exército de Israel acena mudança de foco das operações de Khan Younis para Rafah: 'Panela de pressão de desespero'

Cidade na fronteira com o Egito, no sul do enclave, abriga 1,4 milhão de pessoas, segundo a ONU, a maioria deles deslocados pela guerra

Por O Globo, com agências internacionais — Khan Younis, Gaza

02/02/2024 08h40  Atualizado há uma semana

O ministro da Defesa de Israel sinalizou nesta quinta-feira que as forças terrestres israelenses podem avançar para Rafah, cidade mais ao sul da Faixa de Gaza ainda não afetada pela ofensiva terrestre do Estado judeu, iniciada depois de o grupo terrorista Hamas ter deixado 1,2 mil mortos e feito 240 reféns em um ataque em 7 de outubro. A sinalização israelense sobre Rafah desata preocupações sobre o destino de quase metade da população do enclave palestino deslocada para a área pelo conflito, que deixou mais de 27 mil mortos no enclave, segundo o Ministério de Saúde de Gaza.


— Estamos completando nossas missões em Khan Younis e também vamos alcançar Rafah e eliminar elementos terroristas que nos ameaçam — disse o ministro Yoav Gallant enquanto visitava soldados em Khan Younis, de acordo com gravação distribuída por seu Gabinete. — Essa guerra requer resiliência e determinação nacionais, e precisamos perseverar até completar nossas missões.


Não ficou claro se os comentários de Gallant refletiram um objetivo militar imediato ou tiveram a intenção de mostrar determinação para o público israelense e o grupo terrorista Hamas enquanto se aguarda uma resposta final para um esboço de proposta de cessar-fogo e a libertação de mais reféns de Gaza. Rafah tem um peso simbólico pela proximidade com a passagem para o Egito, sendo o destino de vários estrangeiros, incluindo brasileiros, que tentaram deixar o enclave.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insistiu que Israel continuará combatendo o Hamas em Gaza até "a vitória completa", mesmo enquanto enfrenta uma crescente pressão doméstica para alcançar um acordo para libertar os reféns e pedidos internacionais para que amenize a ofensiva e limite os danos aos civis.

Fugas múltiplas

Milhares de palestinos fugiram para escapar da violência em Khan Younis, também no sul, e na área central de Gaza, muitos apenas com as roupas que vestiam. A ONU descreveu condições críticas em Khan Younis, onde Israel se engajou em intensos combates urbanos enquanto tenta atingir líderes do Hamas que acredita estarem escondidos na cidade, muitos na extensa rede subterrânea de túneis.

De acordo com a ONU, Rafah, onde antes viviam 200 mil pessoas, abriga atualmente 1,3 milhão de palestinos (mais da metade da população de 2,4 milhões do enclave, estimada antes da guerra) que fugiram múltiplas vezes à medida que Israel ordenou retiradas das áreas que pretendia atacar.

Jens Laerke, porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, disse que a agência estava profundamente preocupada sobre a escalada de combates em Khan Younis e o crescente deslocamento de moradores de Gaza fugindo para Rafah.

— Rafah é uma panela de pressão de desespero, e tememos pelo que vem a seguir — disse Laerke a journalistas em Genebra nesta sexta-feira.

Severas restrições em entrega de alimentos, água e remédios e níveis crescentes de doenças aumentaram o sentimento de desespeto, disse Laerke.

— Toda semana, pensamos que não pode piorar — disse, acrescentando: — Bem, vai entender, [mas] fica pior.

Nesta sexta-feira, os ataques prosseguiam no centro e sul de Gaza, em particular em Khan Younis, com o Ministério da Saúde do Hamas informando que 105 civis morreram nas últimas horas em todo o enclave.

Os embates ocorrem enquanto se tentam avanços na frente diplomática. Após uma reunião em Paris entre o diretor da CIA, William Burns, e representantes do Egito, Israel e Catar, uma proposta de trégua foi apresentada ao Hamas.

O líder do grupo palestino, Ismail Haniyeh, exilado no Catar, deve viajar ao Egito para conversar sobre a proposta. Segundo uma fonte do Hamas, o esboço está dividido em três fases. A primeira incluiria uma trégua de seis semanas, período em que Israel libertaria de 200 a 300 presos palestinos em troca de 35 a 40 reféns. Além disso, entre 200 e 300 caminhões de ajuda humanitária poderiam entrar a cada dia em Gaza.

— Essa proposta foi aprovada pela parte israelense e agora temos uma confirmação preliminar positiva do Hamas — disse o porta-voz do governo do Catar, Majed al Ansari. — [Espero] poder dar uma boa notícia nas próximas duas semanas.


Uma fonte do Hamas, no entanto, declarou à AFP que "ainda não há acordo sobre a implementação" da proposta e que "a declaração do Catar foi apressada e não é correta".

Em Israel, Netanyahu é pressionado tanto pelas famílias dos reféns para alcançar um acordo, assim como por alguns de seus ministros, que ameaçam renunciar no caso do anúncio de um pacto "muito generoso" com os palestinos.

Manifestantes protestaram nas ruas de Tel Aviv na quinta-feira à noite para exigir um acordo que permita a libertação dos reféns.

— A única maneira é chegar a um acordo — declarou Moran Zer Katzenstein, de 41 anos. — Depois disso, teremos tempo para lidar com o Hamas e retirar a gestão e a liderança de Gaza (...), mas primeiro temos que tratar dos reféns. (Com New York Times e AFP)


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/02/02/exercito-de-israel-acena-mudanca-de-foco-das-operacoes-de-khan-younis-para-rafah.ghtml

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