GAZA DESTRUÍDA DE NORTE A SUL

  Forças israelenses cercam principal cidade do sul de Gaza

Gaza destruída de norte a sul

A questão não é o direito dos israelenses de se defenderem dos terroristas do Hamas e, sim, se essa estratégia, que provoca milhares de mortes de inocentes, é correta

Por 

Guga Chacra

 — Nova York

07/12/2023 04h31  Atualizado há 3 dias

A Cidade de Gaza na prática não existe mais. Ao longo destes dois meses de guerra, depois do atentado terrorista do Hamas, as forças israelenses destruíram a maior parte das edificações dessa metrópole no norte do território palestino. Não há casas para os residentes retornarem. Não há escolas para as crianças estudarem. Não há playgrounds para brincarem. Não há mercados e lojas para fazerem compras. Sequer há ruas que possam ser reconhecidas.

Centenas de milhares de moradores foram removidos por Israel da Cidade de Gaza, no norte, onde se concentraram as ações israelenses, para áreas no sul, como Khan Younis. Após o cessar-fogo, porém, as operações passaram a focar justamente no sul. Segundo o Exército de Israel, Khan Younis seria o “centro de gravidade do Hamas” — diziam o mesmo da Cidade de Gaza até dias atrás. São as duas metrópoles do enclave. Agora, os moradores do sul e os deslocados do norte também precisam sair da cidade. Talvez sejam mais de um milhão de pessoas.

Se a quase totalidade dos habitantes do norte foi para o sul, e agora os da maior cidade do sul também precisam se deslocar por ordem de Israel, para onde podem ir? Para o norte é impossível. Primeiro porque Israel não permite e segundo porque só há escombros. Não sobra, portanto, praticamente nenhum lugar seguro no território com infraestrutura.

Na minúscula Faixa de Gaza, com 40km de extensão e em média 10km de largura, os palestinos enfrentam dificuldades para ir ao banheiro. Relatos indicam que os existentes têm mais de duas horas de espera e estão em péssimas condições, sem descarga. Não há água potável. É quase sempre contaminada. Banhos ficaram raros. Há milhares de casos de infecção alimentar e boa parte dos hospitais não funciona. Faltam remédios, insulina para diabetes e antibióticos.

Mulheres grávidas enfrentam dificuldade para dar à luz. As mortes prosseguem. Já ultrapassam 16 mil, e metade seria de crianças. Segundo estimativa da ONU citada pelo New York Times, o número de crianças e adolescentes mortos em Gaza em menos de dois meses de guerra é o dobro de toda a guerra na Ucrânia.

As fronteiras terrestres com Israel e Egito seguem fechadas. Basta lembrar da dificuldade que foi para o Brasil retirar algumas dezenas de cidadãos. Pelo mar, tampouco há alternativa, já que o espaço marítimo é controlado por Israel, assim como o aéreo — ambos já eram antes dos ataques ao país. Além disso, mesmo que saíssem, há o trauma da população — a maioria dos palestinos de Gaza descende de pessoas que saíram ou foram expulsas de cidades e vilas no que hoje é Israel na guerra de 1948.

Israel tem, sim, o direito de se defender de um dos mais sangrentos ataques terroristas da História da Humanidade. Mais de 1.200 pessoas foram mortas com crueldade. Mulheres foram estupradas e mutiladas. Cerca de 240, incluindo bebês e idosos, foram sequestrados pelo Hamas. A questão não é o direito dos israelenses de se defenderem dos terroristas do Hamas e, sim, se essa estratégia, que provoca milhares de mortes de inocentes, é correta.

A imagem israelense está desgastada em grande parte do mundo, especialmente entre os jovens. O sentimento antissemita toma conta até mesmo dos campi de algumas das melhores universidades do planeta. Para completar, nada garante que o Hamas será derrotado. Pelo contrário, há indícios inclusive de que o grupo esteja ficando mais popular e, mesmo depois de dois meses, os terroristas seguem ativos na sua capacidade de lutar contra Israel.


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/guga-chacra/post/2023/12/gaza-destruida-de-norte-a-sul.ghtml


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