EXISTE UM GOVERNO SECRETO OU A CASA BRANCA ESTÁ DESGORVERNADA

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Existe um governo secreto ou a Casa Branca está desgovernada?

por Antonio Luiz M. C. Costa — publicado 20/09/2018 00h20, última modificação 19/09/2018 12h55
Se levarmos Woodward e o New York Times ao pé da letra, houve um golpe silencioso no governo Trump. Senão, os EUA estão mesmo sem governo
Quem leu nos primeiros dias de setembro os trechos divulgados para promover o livro de Bob Woodward – Medo: Trump na Casa Branca (Fear: Trump in the White House) – e viu nele o mais devastador retrato possível do poder nos Estados Unidos de hoje mostrou-se um otimista incorrigível. A coluna anônima “Sou parte da resistência dentro do governo Trump” (I Am Part of the Resistance Inside the Trump Administration), publicada pelo New York Times na quarta-feira 5, é ainda mais perturbadora.
Segundo o editor, o autor é um alto funcionário do governo. O texto acusa o presidente de amoralidade e falta de princípios, mas isso é o de menos. Alega que seu comportamento errático e imprudente levou o autor e alguns (aparentemente muitos) de seus colegas a se articularem como “os adultos na sala”, conduzirem o governo à sua maneira e estabelecerem uma “Presidência de duas pistas”, exemplificada pela dupla política para com a Rússia e a Coreia do Norte, com a qual se impõem novas sanções a esses países, enquanto o presidente elogia os respectivos governantes. “Não é o funcionamento do assim chamado ‘Estado profundo’, mas do ‘Estado constante’.”
Contra os impulsos “anticomerciais e antidemocráticos” de Trump, o autor reivindica os alegados “ideais conservadores” do Partido Republicano – “mentes livres, mercados livres e pessoas livres”– e elogia os pontos positivos do governo ofuscados pela “incessante cobertura negativa”, a saber, “desregulação eficaz, reforma fiscal histórica, Forças Armadas robustas e mais”, a despeito da mesquinhez e incompetência do presidente.
O texto elogia o recentemente falecido senador John McCain, “estrela guia (lodestar) para trazer de volta a honra à vida pública e o diálogo nacional” e finaliza pedindo a união “por cima da política dos cidadãos do cotidiano e a rejeição de todos os rótulos além daquele de americanos”.
Eufemismos à parte, soa como um comunicado à população de um grupo que alega ter feito de Trump um fantoche e se apoderado do governo de maneira inconstitucional em nome de interesses conservadores e da “unidade nacional”.
É a linguagem de uma junta militar ao tomar o poder em qualquer país da Ásia, África ou América Latina – como, por exemplo, aquela formada em Brasília em 1969 para impedir a posse do vice Pedro Aleixo quando o ditador Artur da Costa e Silva foi declarado incapacitado. A maior diferença em relação ao clássico “pronunciamento” é que nestas latitudes o público costuma ao menos ser informado dos nomes e postos dos golpistas e em Washington, nem isso.
A especulação mais popular aponta o vice Michael Pence, pelo uso da incomum palavra lodestar, típica do seu discurso, o que faria da coluna anônima o equivalente gringo da carta verba volant, scripta manent do xará e colega de Brasília – exceto que o autor diz preferir participar de um governo paralelo a precipitar uma “crise constitucional” ao tentar remover o presidente, apesar de comunicar a suspensão na prática da Constituição ao tomar o poder por ela concedido a Trump por meio de eleições realizadas segundo suas normas.
Pence negou a autoria e ofereceu-se para passar por um teste com polígrafo (método, aliás, pouco levado a sério fora dos EUA) para “provar” sua inocência. Mais de 30 outros integrantes do primeiro e do segundo escalão do governo fizeram o mesmo, mas o New York Times diz ter sido procurado por um intermediário de confiança e ter confirmado com o próprio autor e ninguém imagina esse jornal arriscando sua reputação com uma falsificação ou um servidor sem importância. 
Trump ficou tão furioso quanto se possa imaginar, exigiu do jornal que divulgasse o autor em nome da “segurança nacional” e pressiona o secretário da Justiça a iniciar uma investigação, mas na falta da divulgação de segredos de Estado ou alegação semelhante, será difícil encontrar para tanto uma justificativa legal. Apesar de a Casa Branca falar de motivos obscuros, “dimensões criminosas” e “quebra de juramento à Constituição”, a publicação não embute nenhuma violação evidente da lei.
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A dúvida é se o circo político de Washington vai incentivar os eleitores democratas a votar ou desanimar os eleitores em geral (Foto: ANGELA WEISS/afp )
O objetivo aparente foi confirmar e realçar o lamentável retrato de Trump pintado por Woodward. O jornalista celebrizado pela investigação do caso Watergate imputa ao secretário de Defesa Jim Mattis a descrição de Donald Trump como tendo o entendimento de um menino de “quinta ou sexta série” e a desobediência à ordem direta do chefe de atacar e matar Bashar al-Assad. Ao chefe de gabinete John Kelly, atribui um amargo desabafo durante uma reunião de equipe em seu escritório: “É um idiota. É inútil tentar convencê-lo de qualquer coisa. Estamos num manicômio. É o pior emprego que já tive”. 
O ex-advogado de Trump John Dowd tentou ensaiar com o presidente as respostas a um possível interrogatório do procurador Robert Mueller sobre as relações de sua campanha com o governo russo. O presidente largou a perder as estribeiras, inventar histórias e gritar até o advogado perder a paciência e lhe dizer que não podia depor por ser um incapaz e recomendou: “Trate de evitar o testemunho. É isso ou vestir um macacão laranja”.
Ainda segundo o livro de Woodward, o ex-assessor econômico Gary Cohn surrupiou da mesa de Trump o rascunho de um documento para retirar os EUA de um acordo comercial com a Coreia do Sul, porque, segundo ele, punha em risco um programa secreto de segurança nacional para rastrear os mísseis norte-coreanos. O déficit de atenção do presidente parece tê-lo levado a esquecer o assunto, tática usada também por outros integrantes da equipe para distrair o chefe de ideias perigosas.
Mattis, Kelly, Dowd e Cohn negam esses relatos e Trump diz considerá-los como pura ficção, enquanto Bob Woodward sustenta a seriedade de seu trabalho e de suas fontes anônimas, conhecidas dele e participantes diretos dos fatos.
É possível que suas fontes – entre as quais devem estar ex-funcionários com contas a acertar com o ex-chefe ou ex-colegas, como o ex-estrategista Steve Bannon, o ex-secretário Rob Porter e o ex-chefe de gabinete Reince Priebus, além de Cohn e Dowd – tenham distorcido seus depoimentos por razões políticas ou pessoais. Entretanto, poucos duvidam da sua integridade como jornalista e o New York Times traz uma forte confirmação independente do núcleo de sua narrativa por parte de alguém ainda na equipe.

De outros pontos de vista, o “pronunciamento” soa contraproducente. Configura um golpe de Estado administrativo e mesmo quem concorda com os valores conservadores e republicanos tradicionais proclamados pelo autor terá dificuldade em dizer que os fins justificam os meios. Até onde se pode julgar de fora, as tentativas de moderar os impulsos de Trump tiveram pouco efeito salvo pelas relações com Moscou e ações na Síria, nas quais os militares parecem de fato dar a última palavra. 
Trump continua a espezinhar imigrantes e a minar as relações com a Europa e o Canadá conforme seus caprichos. Não se deve descartar a possibilidade de a pretensão de participar de uma “resistência” não passar de um autoengano de funcionários demasiado pusilânimes para renunciar e de a realidade ser a de uma Casa Branca de fato desgovernada. No mínimo, vendem a alma pelos favores fiscais e legais às empresas e as concessões ao lobby militar e armamentista do governo Trump, únicos pontos “positivos” que conseguem apontar.
Em princípio, essas revelações parecem fortalecer a oposição. Tendem a desalentar muitos dos eleitores republicanos e animar os democratas a ir às urnas. Nesse país onde o voto é facultativo e se multiplicam os empecilhos ao voto das minorias e dos desfavorecidos, a motivação para o voto pode ser mais decisiva do que as tendências políticas dos cidadãos, estas aparentemente inalteradas desde 2016 e cada vez mais definidas e polarizadas. 
Por outro lado, o efeito também pode ser o de desanimar o eleitor em geral, ao dar a impressão de inoperância e inutilidade do sistema constitucional. Quem deveria servir de freio a abusos do Executivo haveriam de ser o Congresso e a Suprema Corte, mas ambas as instituições, dominadas por conservadores, fecham os olhos, enquanto um obscuro grupo de funcionários se propõe a freá-lo por meio de subterfúgios e ações clandestinas. Essa percepção pode aumentar se os democratas recuperarem a maioria na Câmara em novembro, como é provável, mas não puderem impor nenhuma mudança substancial nos rumos do país.
Consequência ainda mais certa é a deterioração do prestígio internacional dos EUA, cada vez mais percebidos como sem freios nem princípios e à mercê de impulsos demagógicos não por uma anomalia excepcional, mas como uma tendência arraigada.
Ao abandono pelos EUA de instituições internacionais como o Acordo de Paris, a Unesco e a agência da ONU para refugiados palestinos se somam agora as ameaças de John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, de punir e até prender os juízes do Tribunal Penal Internacional, que declarou “morto”, caso se atrevam a investigar crimes de guerra do Pentágono – e o que é pior, a oposição e a mídia liberal dos EUA dão de ombros e se voltam a questões internas.  
Pelo lado positivo, o caso poderia ser uma oportunidade para aliados tradicionais saírem da sua zona de conforto como vassalos protegidos para se articularem e assumirem responsabilidades em relação à estabilidade econômica global, ao ambiente planetário e segurança internacional de forma independente. Mas é mais provável que se mostre como apenas mais um marco no deslizamento da humanidade para o caos.
Fonte:https://www.cartacapital.com.br/revista/1021/existe-um-governo-secreto-ou-a-casa-branca-esta-desgovernada

Trump é “inculto, raivoso e paranoico”, diz Bob Woodward em livro

por Radio France Internationale — publicado 06/09/2018 12h33
O famoso repórter do caso Watergate revela bastidores da Casa Branca
Trump é "inculto, raivoso e paranóico", diz Bob Woodward em livro
Trump rebate: "Apenas outro livro ruim"
A obra, intitulada "Fear: Trump in the White House" (Medo: Donald Trump na Casa Branca, em tradução livre), escrita depois de 19 meses de investigação, ainda não chegou às livrarias. Mas trechos foram relevados pelo jornal Washington Post, que obteve uma cópia do texto escrito por Bob Woodward. O jornalista, em parceria com Carl Bernstein, revelou o escândalo Watergate - caso que desencadeou a renúncia do presidenteRichard Nixon, em 1974.
Em seu novo livro, Woodward descreve um chefe de Estado inculto, raivoso e paranoico, além de declarações e episódios polêmicos. Cenas impensáveis, como quando Trump sugeriu assassinar o presidente sírio Bashar Al-Assad.
Segundo Woodward, depois do ataque químico de abril de 2017 em Khan Cheikhoun, no noroeste da Síria, atribuído ao regime de al-Assad, Trump supostamente ligou para o general Mattis e lhe disse que queria assassinar o chefe de Estado.
"Vamos matá-lo. Vamos. Vamos matar um monte deles", disse Trump ao chefe do Pentágono. Após desligar, Mattis teria recorrido a um assessor e teria dito: "Não faremos nada a respeito, seremos muito mais comedidos".
Woodward também descreve em seu livro a frustração vivida de forma recorrente pelo secretário-geral da Casa Branca, John Kelly, tradicionalmente o homem mais próximo ao presidente na "Ala Oeste", onde está localizado o salão oval. Em uma reunião, Kelly teria afirmado sobre Trump: "É um idiota. É inútil tentar convencê-lo de qualquer coisa (...) Nem sei o que eu estou fazendo aqui. Este é o pior trabalho que já tive". Oficialmente, Kelly assegurou que jamais chamou o presidente de idiota e reafirmou o seu compromisso com ele.
Documentos perigosos
No polêmico livro há também o relato de quando o ex-assessor econômico Gary Cohn roubou um documento que encontrou sobre a mesa de Trump, que deveria ser assinado pelo presidente e que revelava sua intenção de retirar oficialmente os Estados Unidos de um acordo comercial com a Coreia do Sul.
Cohn teria explicado então a alguém próximo que havia tomado essa atitude em nome da segurança nacional e que o magnata imobiliário nunca se deu conta do desaparecimento do documento.
Os trechos divulgados pelo Washington Post revelam um presidente paranoico que ataca os seus colaboradores com uma violência fora do comum. O procurador-geral, Jeff Sessions, que tem sido alvo recorrente do desprezo presidencial, é um dos que recebe um tratamento impiedoso da parte de Trump. "É um cara retardado. É um imbecil", teria afirmado a Rob Porter, um de seus assessores.
A Casa Branca respondeu dizendo que se trata apenas de "histórias fabricadas", enquanto o aguardado livro reaviva as pressões contra um presidente cercado por múltiplas investigações e uma eleição de meio mandato que poderia prejudicar o Partido Republicano.
"É apenas outro livro ruim", ressaltou Trump ao Daily Caller, uma publicação conservadora, afirmando que se tratam de "coisas desagradáveis" e "inventadas". "Ele teve grandes problemas de credibilidade", disse sobre Woodward, sem dar detalhes sobre essa afirmação.
Fonte:https://www.cartacapital.com.br/internacional/trump-e-201cinculto-raivoso-e-paranoico201d-diz-bob-woodward-em-livro

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